S. Kannaiyan, Secretario geral, SICCFM
A escola
Nacional Forestan Fernades, criada pelo MST, assim foi nomeada em homenagem ao
líder e intelectual homônimo da classe trabalhadora brasileira e da América do
Sul. Segundo Paulo, um dos coordenadores
de Política nessa instituição, “ Está é uma escola para os membros do
movimento. Em São Paulo a escola possui uma estrutura básica necessária, além disso, existem centros regionais em Brasília, no Ceará,
Pará, e está prevista a abertura de novas filiais em outras regiões do país.
Atualmente, são 30 os centros de formação do MST”.
A decisão pela
construção deste centro de formação foi tomada em 1996, mas foram necessários
três anos para que a primeira escola fosse inaugurada. Neste período, algumas
personalidades muito conhecidas passaram a suportar a causa do movimento. Entre
eles, o fotografo brasileiro mundialmente reconhecido, Sebastião Salgado, que
doou os direitos de publicação de fotografias das lutas e da vida cotidiana dos
Sem Terra como fonte de renda para a construção da escola do MST. Chico Buarque
e José Saramago também doaram os direitos do livro realizado em parceria com o
fotógrafo como contribuição à coleta de fundos para o projeto.
A escola Florestan Fernandes foi construída graças ao
trabalho árduo de voluntários que vieram de todo o Brasil. Arquitetos e
engenheiros desenharam e ajudaram na construção do edifício que foi inaugurado
em 2005. Atualmente, a escola conta com uma boa biblioteca com livros
referentes a assuntos diversos, salas de aula, centros de reuniões, acomodações
bem conservadas, cozinha e salão para refeições. Além de uma sala de
informática e conexão Wi-Fi em todo o prédio. Todos os dias os estudantes
expressam suas ideias inovadoras e ateiam as bandeiras do MST e da Via
Campesina no pátio da escola.
Mas o que eles fazem na escola do MST? Neste espaço são
ministrados treinamentos político em diferentes áreas. Tais quais:
1) Teoria Política: 4 cursos nacionais que duram, cada
um, 40 dias, sendo dois destes cursos destinados ao treinamento dos futuros
líderes do MST.
2) Um curso para lideres de movimentos sociais realizado
em três etapas, cada uma com a duração de 45 dias.
3)Curso intensivo de leitura sistemática de Karl Marx
realizado em 6 etapas, cada uma com duração de uma semana.
4) Curso intensivo similar para leitura do trabalho de
Karl Marx e dos escritos de Florestan
Fernandes, quem escreveu mais de 60 livros de política clássica.
5) Estudos Latino-americanos. Via Campesina – CLOCK (
Coordenação latino-americana de movimentos sociais) e Via Campesina ALBA – rede
de movimentos sociais na América Latina que envia seus estudantes para este
curso. Exitem 3 disciplinas oferecidas
sob esta cátedra:
I- Formação de
instrutores de política. Este curso tem uma duração de 40 dias e, no final, os
alunos devem apresentar um programa para seus movimentos. Cerca de 60 estudantes, originários de 16
países, participam dessas aulas.
II - Teoria política latino-americana é o curso de
maior duração, são três meses de aula.
III-
Especialização em estudos latino-americanos. Este curso é ministrado em
parceria com a Universidade Federal de Juiz de Fora, são 2 anos de aula
conduzidos em 5 etapas. Os temas das aulas são variados e inclui filosofia,
política, economia, questões agrarias, e teorias organizacionais. Uma fase é
ministrada pela escola nacional em São Paulo e as outras na Universidade.
Cursos formais: a escola nacional do MST tem parceria com
várias universidades que ministram cursos formais em graduação e pós-graduação.
Sete cursos formais são coordenados pela Universidade de Brasília, pela Federal
do Rio de Janeiro, pela Universidade de São Paulo (USP) e UNESP, e pela
Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Cursos de graduação, incluindo
arte, drama e poesia nas áreas rurais; pós-graduação em agro-ecologia e
educação e saúde também são oferecidos.
Além das aulas, debates, seminários e encontros são
realizados para um público variado. Pelo menos 8 seminários são organizados
todos os anos sobre diferentes temáticas, como por exemplo estudos
latino-americanos. Aos domingos são
feitos ciclos de debate abertos ao público, além de encontros sobre temas
variados organizados frequentemente pela escola. Em 2012, cerca de 4100 e, em 2013, 3500 pessoas foram beneficiadas
pela escola, tendo participado de diferentes
programas da instituição.
A escola nacional do MST é uma ideia para a solidificação
do processo de construção do movimento. Todos os voluntários ficam na escola
por um período que varia entre 2 e 4 anos. Neste período, eles realizam
trabalhos coletivos com divisão de responsabilidades. Durante minha visita, os
coordenadores políticos da instituição eram Paula Djacira e Erivan, ambos
colaboravam com outros colegas e com o MST. Esta escola não possui nenhum tipo
de suporte do governo e não remunera ninguém. Professores voluntários e
estudantes trabalham em conjunto pela instituição e pelo movimento..
Em minha despedida, Paulo me disse que espera que o
trabalho feito na escola contribua para a redefinição do futuro da sociedade.
Infelizmente, os movimentos camponeses indianos não contam com escolas de
formação para seus membros e líderes. Fiquei impressionado pela participação
igualitária de jovens, mulheres e homens em todas a atividades seja em sala de
aula, seja na cozinha. Outra coisa que me impressionou muito foi a contribuição
desta instituição para os estudos latino-americanos e, por consequência, para a luta de toda a região. A escola é uma
demonstração da luta coletiva dos povos da América Latina e isto é algo que não
observamos na Ásia e no qual deveríamos nos espelhar.
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